“Felicidade é a capacidade de acreditar.
Sabedoria é a capacidade de duvidar e discernir.
Só o espírito pode uni-los”.
“Tom Chung”
Cronologicamente, o tempo tem 24 horas em qualquer parte do mundo. Apesar do tempo ser único e universal a seu tempo, pode também ser relativo, especialmente por se apresentar diferentemente para cada pessoa, do britânico (no tempo) ao atrasado (através do tempo). Em algumas interpretações psicanalíticas, se o paciente chega atrasado, é resistente ao tratamento, se chega no horário é obsessivo compulsivo e quem chega antes do horário é ansioso. Isto pode nos dar a sensação, de estar no tempo e através dele, navegando pelos seus diversos significados emocionais de tempo e espaço, apesar de estranho para alguns e familiar para outros. Tudo aquilo que envolve pessoas e seus mais variados significados, está baseado no tempo.
Falamos constantemente do passado, presente e futuro, como uma dança de ritmos diferentes a todo momento, compondo nossas emoções, junto com respirações oscilatórias na intensidade e velocidade rítmica.
O tempo não para e nos envolve a cada instante, até mesmo antes do nascimento. Muitas histórias foram construídas antes de nós através da linha do tempo. O passado de um recém-nascido é o útero, tanto é que chamamos de vida intrauterina. O passado nos dá referências, embora, algumas pessoas o tem como norma de condutas atuais. Emoções de crianças, faz parte de uma estrutura que corresponde a sua idade, por isso achamos estranho, um adulto, fazendo beicinho quando se sente frustrado, quando contrariado, por isso também que algumas pessoas que sofrem de bronquite, também intensifica a dificuldade respiratória, quando não consegue o que quer do meio ambiente e, assim inúmeros casos. A estranheza está na incoerência, não combina. Tudo o que vivemos é no agora, mesmo que seja o agora dos significados do passado. O Futuro pode representar projeções construtivas ou destrutivas, dependendo do sentido que cada um dá para sua linha do tempo. Quando Platão falava do mundo da idéias, como sendo real e o mundo físico concreto como irreal, ele falava do significado dado a este mundo real, que gera a ideia de mundo, mas não o mundo em si. O mito da caverna é um exemplo disto. Uma pedra, por exemplo, pode representar uma arma, quando atirada em alguém, pode ser também, uma das pedras do nosso caminho ou simplesmente uma pedra.
Um número significativo de psicossomatizações, desajustes emocionais, angústias, medos, ansiedades e depressões acontecem no relacionamento do Ser com seu Tempo. Lembremos, que todos nós temos medo, o que faz a diferença é o significado que damos a ele. Assim o medo passa a ter tamanho, peso, forma, cheiro, massa, volume, e exteriorizado através de crenças limitantes ou possibilitadoras, conscientes ou inconscientes.
Antes, tínhamos tempo, porém entrávamos em conflito por achar que o tempo se ausentava, justamente quando precisávamos de mais tempo. Isto gera medo, que gera pressão e desta a tensão entre o presente e futuro. Esta tensão a seu tempo se transforma em angústia, ansiedade e até depressão.
O tempo não para e é evolutivo, por isso nos dá chance de escolher livremente o que queremos, colocar em ação e concretizar. Prometer e não cumprir é desperdiçar o tempo e isto, mesmo que não queiramos, gera culpa e ansiedade, mesmo as promessas de 31 de dezembro, fazem parte do kit da ansiedade. É inerente ao homem a temporalidade, do início, meio e fim para cada objeto de projetos ou promessas, pois daqui exercem duas pressões diferentes no mesmo ser, a do objeto da promessa que pulsa no indivíduo e sua desvitalização, quando não realizada. O eu se divide, brigam entre si e gera conflito. Aconselhar pessoas a fazerem atividade física, meditação, sem termos passado pela experiência é propaganda enganosa e ainda nos atrevemos, em chamar pessoas de falsas, mentirosas, por acaso quando falamos ao outro para fazer uma experiência que não temos, prometer e não cumprir, é verdadeiro? O tempo nos dá tempo de refazer caminhos, até a realização, especialmente quando a insistência for maior que a desistência. O tempo pode nos acalmar e também ser a verdadeira indústria da ansiedade.
Muitas pessoas, sofrem de ansiedade antecipatória, por criarem situações de ameaças no futuro, por isso precisam gerar defesas, por exemplo: Alguém termina o relacionamento, por acreditar que o outro terminaria de qualquer jeito com ela. Ansiedade antecipatória, quando estamos prestes a realizar provas escolares, por nos julgarmos inferiores. Pessoas com dificuldades de falar em público, podem ter sensações orgânicas desconfortáveis, até mesmo dores pelo corpo, alteração de pressão arterial, só por saber que tem uma palestra marcada e que muitas pessoas irão assistir. Passa rapidamente pela mente: Tudo que eu li, me preparei, foi em vão, porque as pessoas não irão gostar, e se me fizerem perguntas e eu não souber responder? Aqui estamos diante de um autojulgamento, realizado pela emoção do fracasso, que fez gerar imagens destrutivas, através do juiz interno. O perfeccionismo, manias comportamentais desenvolvidas por inseguranças. A ansiedade é a tensão existente entre o agora e o depois. Vai desde o simples não vejo a hora de, até toda negatividade projetada para o futuro. Todos estes fatores e tantos outros são mecanismos ansiosos da menor a maior intensidade. A intensidade depende das representações internas do passado, bem como da maneira de lidar com o tempo. A ansiedade luta constantemente com o tempo na tentativa extrema de resgatar o futuro que ainda não se viveu. Para antecipar o futuro, tensionamos o presente, através de uma espécie de cronômetro em contagem regressiva do futuro.
Alimentamos muito a sensação de derrota, especialmente pela inabilidade de lidar com o tempo, por termos sempre a sensação de estarmos atrasados ou fora da curva do tempo. Culpamos o tempo por nos limitar, mas sem perceber que ele está sob medida. É o nosso número. O tempo não para, e no entanto ele nunca envelhece, porém nossas atitudes mentais, podem envelhecer na tentativa de parar o tempo pela arrogância e orgulho de não abrir a mão para agradecer o tempo que a vida nos deu e nos dá para amolecer, quebrar paradigmas, conectar com o cardíaco, mudar esquemas e padrões mentais aprisionantes e limitadores. Quando olhamos no espelho, contamos número de rugas, fios de cabelos brancos, como seria se pudéssemos, apenas olhar o tempo em nós e ver movimento, forma beleza, que o tempo fez conosco. O que nos faz olhar para nós e ver somente o lado sombra e esquecer que sem luz não há sombras. É importante vermos luz nas sombras. O dia desvela a noite e esta por sua vez, desvela o dia. Nós incessantemente somos luz e sombra, desta maneira quanto mais se conhece a sombra, mais intensa será a luz.
O estresse, acontece através de muitas emoções presas, por correrias ininterruptas, por fora com as pernas e por dentro com o coração, sem tempo para nos cuidar, para saborear nossas refeições, sem tempo de conversar. Fazemos amor com o celular na mão e às vezes participando de uma reunião da empresa. Ancoramos a conexão com a internet, através da desconexão com nós mesmos. Não temos tempo para nada, porém o nosso organismo nos alerta com dores, mal estar, tonturas, perda de memória, perda de energia, gastrite, duodenite, apendicite, úlceras, enfartos, obesidade, depressão, ansiedade antecipatória, etc. Tudo isso representa níveis de pressão sobre nós, que foi se intensificando através do tempo, até surgir o estresse, ou seja, nosso organismo não aguentou e se pronunciou. A pressão que temos sobre nós mesmos que deixamos de respirar. Não se trata de parada respiratória.
Deixamos de viver, de sentir nossa respiração, para entrarmos na mecanicidade de coisas, números e muita pressa. Cadê você?
A maioria destas manifestações são psicossomáticas. Soma do grego é corpo. Inconscientemente, convertemos para o físico, emoções inconclusas, irradiadas pela irritabilidade, raivas, impaciência. Isto não é e liberar energia, como dissemos acima, com outras palavras, o organismo precisa concluir coisas, finalizar. A raiva não liberta, muito pelo contrário, aprisiona nossa audição, visão e sensações, impede intuições, pois a raiva é calcada no cérebro reptiliano, baseada na defesa e ataque, por isso ela, a raiva gera hábitos, por estar também calcada no medo de perder e apanhar.
Cobranças excessivas, problemas jogados para a noite, na hora do sono, ser bonzinho, sentir dores e bancar o forte, vontade de chorar e engolir o choro, sãos exemplos clássicos de implosão e estresse. O medo, a ansiedade e a angústia inibem a criatividade diante de situações desafiadoras. Isso significa que podem somatizar no físico ou organismo, sensações e sentimentos dessa natureza.
Em uma das composições de Caetano Veloso, inicialmente, nas primeiras estrofes, ele coloca o tempo como um dos Deus mais lindos, Inventivo, Compositor de destinos e tambor de todos os ritmos. Invenção, destino, ritmo. Que combinação perfeita! Música, é invenção, destino e ritmo., pois música é tempo e o ritmo nada mais é do que a combinação de tempos. O tempo é Rei, e pode transformar as velhas formas do viver.
Nós somos compositores dos nossos destinos, autores de nossas histórias, e fazemos isso através dos ritmos diferentes, que se cruzam de alguma maneira. Às vezes, temos a letra, mas não temos a música, que dependendo da conduta no tempo, torna-se desafiador, a façanha desta união, até chegar na possível desistência ou insistência da criação. Aqui manifesta-se a culpa, no símbolo de uma flecha desgovernada.
Culpa-se tudo, outros, outrem e a si, por motivos do imaginário, supostamente reais, na tentativa desesperada de interpretar sensações físicas e emocionais, atiramos para todos os lados, sem alvo, sem ritmo, sem calma e sem música. A necessidade da desculpa se faz presente, através de ações infantilizadas, num mecanismo de ingenuidade profunda. “Eu não sabia que era assim” “Nossa” como é difícil. O “Nossa” é uma reza, digo uma reza, porque se repete apelativamente, em muitas das nossas frases. mesmo que tenhamos hábitos de culpar o passado. O “Nossa” é dito, sem uma percepção clara, de quem fala e pode também ser um vício de linguagem.
O tempo pode nos levar para vários destinos, com o sem deslocamento físico. Muitas vezes julgamos, através de comparações conscientes e inconscientes, pois o cérebro compara e generaliza o tempo todo. Quando chamamos alguém de lerdo, lento, burro, imbecil ou idiota, convidamos esta pessoa a sentir, tal como dito em nossa profecia, independente de ser criança ou não. Na realidade são xingamentos, prejudiciais a autoestima de quem recebe, porém quem xinga não sabe do que está falando, não sabem o significado destas palavras, se soubessem não falariam, porém o que fica impresso no tempo, é a energia do que é dito. Ninguém ofende o outro amorosamente.
O tempo nos dá tempo para crescer, amadurecer, evoluir. Tempo não um simples relógio, mas é oportunidade e prioridade. Oportunidades realizadas no tempo e a tempo, sem procrastinações, é maturidade.
Administrar o tempo não é programar a vida nos mínimos detalhes: é adquirir controle sobre ela. É necessário planejar, sem dúvida, mas é preciso ser flexível, saber fazer correções de curso, se dar chance.
O tempo nos fortalece, quando o tornamos útil e saudável. Tempo de falar, de ouvir, sentir, ouvir, envolver, ouvir, pensar, ouvir, olhar, ouvir, chorar, ouvir, sorrir, ouvir, ser, ouvir. O tempo nos enfraquece, quando o pressionamos, quando lamentamos sobre ele, e quando o achamos insuficiente.
O tempo cura, mas também pode adoecer.
De que maneira aproveitamos o tempo, no tempo e a tempo durante os caminhos das idas e vindas? Frases como: “Você é jovem, tem muito tempo pela frente”. “Você ainda vai viver bastante” O que é viver muito? O que é viver pouco? Pergunto: Se tivermos 10 minutos de vida, de que maneira, podemos aproveitá-lo?