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Comunicação não violenta

Como está a sua comunicação?

 

Um dos maiores desafios da comunicação é a escuta genuína, embora um percentual significativo das pessoas acredite que o número de palavras ditas e a expansividade os tornem comunicativos ou extrovertidos. A expansividade diz respeito a como as palavras são ditas em coerência com a expressividade fisiológica, ou seja, se o corpo fala ou não o que as palavras dizem. Nós, humanamente, precisamos de atenção, com a necessidade de sermos vistos e valorizados. Ser importante só é verdadeiro quando a atenção plena está presente na conversa, existente na interseção de mundos, através do relacionamento. Relacionar significa refazer laços, e este último significa um nó que se desata facilmente. Para olhar através dos olhos do outro, basta sair da automaticidade da pressa, utilizando o tempo como o grande repressor de possibilidades existenciais. Perdemos tempo com tantas coisas inúteis; com a motivação da pressa, julgamos e condenamos rapidamente, sem passar pelas vias necessárias do pensamento, mas sim pela compulsão da língua que maldiz, por não conhecer e não compreender. Na maioria das vezes, dependendo da compreensão e entendimento que se tem da audição, a fala será coerente ou não com o propósito da conversa.
Por isso, quando falamos de uma terceira pessoa para alguém, corremos o risco de julgá-la por um conteúdo de ações demasiadamente pequenas, ou seja, transformamos uma parte do outro naquilo que o nosso olhar interpretou como sendo real. Na maioria das vezes, o nosso real pode ser imaginário, especialmente quando transformamos uma parte do outro em toda a sua história. Assim, aquilo que mais incomoda nas pessoas que criticam destrutivamente está dentro delas mesmas: aquela parte vista no outro. Nem sempre aquele que fala muito diz o necessário para ser entendido, pois, para isso, há necessidade não só de entender, mas também de compreender.
O entendimento e a compreensão são fundamentais na comunicação, mas não são a mesma coisa. O entendimento é uma parte do todo, e a compreensão é o todo. O termo “Eu já sei do que se trata” não necessariamente expressa um saber sobre um tratado, pois o saber implica experiência, baseada na soma das partes e não apenas na parte “eu já sei do todo”. Olhar para a capa de um livro ou até mesmo ler o prefácio é uma parte do livro, mas não é o livro como um todo. Nesse caso, não posso dizer “Já sei do que se trata”. Até aqui falamos de leitura, mas como essa vivência se aplica nas relações interpessoais e até mesmo no mundo animal e material? Quando interrompemos a fala de alguém para expressar a nossa, abandonamos o todo e ficamos com uma parte da narrativa do outro, acreditando que já entendemos e compreendemos o que achamos que ouvimos. O nome disso é pressa! Já experimentou dizer para o outro que você não tem tempo para ouvir e só tem para falar? Como é que se fala algo que não passa pela percepção? O entendimento diz: “É mesmo, interrompi você!” Essa frase é de característica automática. No próximo encontro, irá acontecer a mesma coisa. A ausência de olhar para si, perceber e transformar é tão desafiadora quanto parar para ouvir as pessoas. Se não há audição para si, também não haverá para as pessoas.

Você se sente compreendido? É empático consigo e com os outros? Tem autocompaixão e compaixão pelos outros? Sente a essência da gratidão ou diz mecanicamente “Grato(a)” ou “Gratidão”? Diz o que realmente quer dizer? Ouve o que realmente foi dito? Interrompe os outros e profetiza? Diz o que pensa sem filtros, impulsivamente e em tons de agressividade e chama isso de sinceridade? Sua escuta é autêntica, tanto quanto sua fala? Ouve pacientemente, como se estivesse em meditação?
A comunicação ocorre em tudo o que há na natureza, desde as mais microscópicas criaturas até as mais complexas. A comunicação acontece através da codependência entre seres e elementos aparentemente desiguais, porém numa soma de diferenças. O solo, por exemplo, tem características diferentes da planta, da água, do ar, das nuvens e do sol, mas um atende à necessidade do outro dentro de um ciclo de vida. Essa necessidade é atendida por uma comum e única ação entre as diferenças. Se a natureza deixasse de acolher a chuva, o que seria das plantas, rios, mares e de nós? Neste sentido, somos um através da união das nossas diferenças. O ser humano pode também estabelecer comunicação consigo, da mesma maneira que estabelece com os outros.
Pode ser autoempático, autocompreensivo, autocompassivo e também violento, egoísta, orgulhoso, arrogante, dentre outras características. Assim, dependendo da maneira como nos comunicamos conosco, influenciamos nossa comunicação com as pessoas.
A comunicação não violenta representa a maneira autêntica de ouvir e também de falar para quem nos escuta. A autenticidade está no fato de parar para ouvir silenciosamente a pessoa, para que possamos dizer a ela algo que corresponda ao que foi dito. Isto é autenticidade e sintonia. A parte essencial da comunicação é a audição, pois, dependendo da maneira como se ouve, a fala pode ser defensiva, surda ou autêntica. Por isso, muitas das sinceridades ditas por aqueles que se dizem sinceros são inautênticas e surdas, e isso ocorre pela ausência de assertividade, sensibilidade e tempo para o outro. Essa forma de ser sincero gera ansiedade e violência. Dedique-se a um tempo para ouvir com os ouvidos do coração e esqueça que tem boca. Apenas ouça silenciosamente qualquer pessoa, especialmente um membro da família. Que tal sua esposa(o), seu filho(a), seus pais, seus avós, irmãos e sogra(o)?
Sugiro começar por eles, porque o caminho mais desafiador é o de dentro para fora e não o contrário.
A simplicidade da comunicação está na ação de perguntar o que não ficou totalmente claro sobre o que foi dito. Para isso, é necessário estar no aqui e agora do encontro, estar presente na autenticidade do envolvimento, para que possamos compreender as necessidades do universo daquele que nos fala com o olhar, compaixão e acolhimento, mas também com distanciamento e violência.
A comunicação verdadeira flui num feedback 360, tem ressonância, e até os ruídos da fala são ditos, trabalhados e compreendidos entre as partes. A comunicação nos dá a liberdade de ter laços conosco e com os outros e, ao mesmo tempo, desfazer esses laços para recriá-los, sem eliminar a essência da relação. Pois o desfazer laços não significa interrupção da comunicação, mas tê-la como ponto de partida para evolução. Após recriar e refazer, o laço não será mais o mesmo, pois estará sob o efeito da experiência do encontro. Cada encontro é único.
O aspecto violento da comunicação não está necessariamente numa ofensa ou num palavrão, mas na falta de audição autêntica, que gera outras faltas, como má interpretação, falta de compreensão, egocentrismo, falar junto com a pessoa e profetizar pensamentos. Usar muito o “já sei”, a impaciência. Quer treinar seus ouvidos? Experimente ouvir com autenticidade aquela pessoa que, ao ver você, conta sempre a mesma história. Somos únicos, então vamos coexistir com coerência, integridade e autenticidade.


 

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